Além de serem alimento para a imaginação, as histórias suscitam sentimentos, anseios e compreensões que tocam a linguagem do inconsciente e que podem fazer aflorar no leitor diversos arquétipos.
A teoria dos arquétipos, de Carl Gustave Jung – fundador da Psicologia Analítica -, propõe que a estrutura da imaginação e as experiências comuns de todas as sociedades humanas inspiram soluções narrativas semelhantes.
É como se um conjunto de imagens primordiais, originadas da repetição progressiva de uma mesma experiência durante muitas gerações ficassem, de certo modo, armazenadas no que Jung chama de “inconsciente coletivo”.
Para Jung, o inconsciente é caracterizado por duas camadas. A primeira é o inconsciente pessoal, onde são mantidas todas as experiências pessoais (…). A outra camada é o inconsciente coletivo, sendo uma área mais profunda da psique, remontada na infância, através de restos das vidas dos antepassados. No inconsciente estão contidos os instintos, juntamente com as imagens primordiais herdadas da humanidade. Assim, muitas das estruturas que constituem os seres humanos são herdadas de seus ancestrais (…) nunca perdendo a essência e suas raízes. (Bianca Pizzatto Carvalho, Consteladora Familiar e Advogada Sistêmica).
Dentre as muitas possíveis razões pelas quais as histórias são criadas e recontadas está justamente essa urgência de externar o que existe no inconsciente humano, independentemente de raça, etnia, gênero, condições ou crenças.
São os arquétipos que imprimem significado às histórias que são passadas de geração a geração.
Esses mesmos arquétipos – encontrados especialmente nos contos de fadas, histórias, lendas e mitos – são o que nos auxilia a compreender algumas de nossas necessidades humanas mais fundamentais, como a necessidade de pertencimento, de realização, de independência, de estabilidade, de reconhecimento e de amor, dentre tantas outras.
Por meio da arte das histórias é que preservamos nossa memória como guardiões desse conhecimento trazido por meio de nossos ancestrais.
Sejam as histórias lidas, narradas, encenadas, coreografadas ou cantadas, é por meio delas que acessamos a própria história da humanidade. Inspirados pelas Nove Musas Gregas, representantes das artes, podemos tecer de maneira complexa e diversificada essa ampla trama das histórias que, além de serem atemporais, nos perpassam a todos desde o início da humanidade.
Luciana Zoccoli