As narrativas, segundo a Dra. Clarissa Pinkola Estés, psicóloga junguiana e guardiã de histórias, são bálsamos medicinais, e nelas reside a cura tanto para resgatar algo importante que tenha sido perdido quanto para reparar qualquer dano que tenha afetado nossa psique.
Quando ouvimos ou lemos uma história, nos conectamos com nossos sentimentos mais profundos e podemos nos abrir para ouvir nossa própria voz do coração.
Além de alimento, as histórias servem também de remédio para a alma. Para Estés, “uma história é um medicamento que fortifica e recupera o indivíduo e a comunidade.”
Elas têm força, embora não exijam que se faça nada, que se seja nada, que se aja de nenhum modo particular.
Basta que, no momento mágico em que a história acontece, saibamos fazer uma pausa e abrir espaço para simplesmente prestar atenção. Para estar presente.
Ler e ouvir histórias, contos e poesias alimenta e revigora todo e qualquer ser humano, não apenas as crianças.
As narrativas oferecem possibilidades de mudanças que se ampliam para muito além dos limites de seus enredos “improváveis” ou de suas páginas fantasticamente ilustradas.
Todas as metamorfoses vivenciadas nos enredos das histórias prometem mais do mesmo encanto, não só no reino da ficção, mas também neste mundo.
O poder transformador das histórias se explica pelo fato de que elas falam direto ao coração, para só depois interagirem com o intelecto.
Atualmente, sabemos que nosso intelecto é constantemente visitado com excesso de informações, especialmente pelos meios de comunicação de massa.
No entanto, enquanto apenas o nível intelectual for atingido, não há espaço para a realização de verdadeiras mudanças.
As vivências simbólicas trazidas à luz pelas histórias combinam-se com a força criativa de nossa própria fantasia e nos possibilitam exteriorizar no mundo físico e tornar concretas nossas mais íntimas criações imaginárias.
As histórias, nesse sentido, fazem falar as vozes da alma.
A fantasia infantil possui às vezes dimensões que nós, adultos, mal podemos imaginar. Não se trata apenas de meras ‘cogitações’ de imagens mais ou menos irreais; pois a criança atinge, com sua força anímica, esferas cuja entrada é vedada aos adultos caso esses não sejam artistas. Assim como o artista penetra mais profundamente na essência do mundo e alcança conhecimentos mais verdadeiros, a criança também está ligada a ela mais intimamente, embora de modo mais inconsciente. Ela ainda é capaz de alcançar o essencial das coisas.(Caroline von Heydebrand, em A Natureza Anímica da Criança.)
Um fato interessante é que, entre as tribos africanas, a arte milenar de contar e ouvir histórias é chamada de “troca de hálito”.
Além de oferecer espaço para se estar verdadeiramente presente, ela possibilita a experiência de sentir e ser sentido pelo outro. A arte de contar histórias encanta e aquece justamente por causa da presença.
Quando narradas, as histórias nos conectam fisicamente (ainda que a conexão muitas vezes se dê por meio virtual, como acontece atualmente), com as expressões vivas de nossas feições, com o olhar, o pensamento, a linguagem da alma. Para Ilan Brenman, escritor e autor de best-seller, “Não há nada mais genuinamente humano do que parar e contar histórias.”
Assim as histórias nos transformam e sensibilizam. Agem na (re)construção do nosso ser, ampliam nossa capacidade de imaginar possíveis caminhos e nos humanizam, no sentido mais pleno da palavra.
por Luciana Zoccoli