A História da Contação de Histórias

Nenhum ouvinte ou leitor permanece o mesmo depois que abre espaço – dentro de seu tempo e também dentro de si – para acomodar uma história. Após uma contação de histórias, ficamos diferentes.

Tornamo-nos outros. Sejamos adultos ou crianças. Talvez mais fortes, mais corajosos, mais atentos, quem sabe. Se uma história é capaz de evocar tantas mudanças, podemos concluir que, quanto mais histórias ouvirmos, melhor preparados estaremos.

É de Albert Einstein a frase: “Se quiser que os seus filhos sejam brilhantes, leia contos de fadas para eles. Se quiser que sejam ainda mais brilhantes, leia ainda mais contos de fadas.”

Os contos de fadas, os mitos, as poesias e demais tipos de narrativas proporcionam uma compreensão além, que disciplina o olhar e o “faro” e equipa o leitor com poderoso instrumental para fazer melhores escolhas e tomar decisões com uma consciência mais ampliada.

Contação de Histórias

o Encanto dessa História

Para Marina Warner, historiadora, mitógrafa e escritora inglesa, é como se as histórias representassem a vivacidade da experiência no meio da inexperiência, assim como a capacidade de sonhar e de se encantar.

Tomando-se como exemplo o verbo wonder, que em inglês significa tanto “encantar-se” quanto “perguntar-se”, podemos compreender melhor o efeito sentido quando contamos e ouvimos histórias: uma mistura entre o estado “passivo” de maravilhar-se, encantar-se, e o desejo “ativo” de querer saber mais, de questionar.

O verbo wonder consegue exemplificar, no mínimo, duas características do conto de fadas tradicional: a de proporcionar prazer pelo fantástico e curiosidade pelo real.

A dimensão do maravilhoso, especialmente no universo infantil, cria um imenso leque de possibilidades: nas histórias, tudo pode acontecer!

O sonhar, por si só, proporciona enorme prazer à criança, mas também representa uma dimensão prática da imaginação, um aspecto da faculdade do raciocínio que pode abrir possibilidades também em nossas relações com o mundo.

É como se vislumbrar o mundo fantástico auxiliasse a enxergar o mundo real.

Contação de Histórias e os Contos de fadas

Os contos de fadas empregam, tipicamente, histórias de passados remotos para descortinar o futuro. Suas conclusões e finais felizes nem sempre significam um encerramento total, mas trazem consigo promessas e anunciam o que ainda pode vir a ser.

Muitos desfechos inesperados desafiam o destino ao mostrar que situações que passaram longo tempo mal resolvidas podem, sim, mudar.

Nas histórias podem estar escondidas instruções que nos orientam a respeito da complexidade da vida e permitem descobrir novos meios de realizarmos nossas tarefas.

As instruções que muitas vezes aparecem nas entrelinhas atuam no ouvinte como uma confirmação de que aquele enredo não terminou, mas de que o fio da história ainda pode conduzi-lo mais longe, e ainda mais longe, na direção de seu próprio desenvolvimento.

As histórias, assim como as demais artes, servem de alimento psíquico para a alma. E sempre que a alma é alimentada, ela tende a se expandir.

Os finais – felizes ou não – dos contos de fadas são para o ouvinte/leitor apenas o começo da história maior, e qualquer estudo que tente dar conta de sua totalidade absoluta irá fracassar antes que qualquer tipo de final possa ser alcançado.

A história da Contação de Histórias é um conto que nunca será concluído. Como Warner sugere em uma tradicional fórmula de encerramento, a história é sempre tecida de dois lados:

“Contei minha história e agora deixo-a em suas mãos.”

Cabe a nós decidir o que fazer então.

por Luciana Zoccoli
Natureza em Poesia

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