De fundamental importância no processo de desenvolvimento infantil, as histórias celebram as estações da vida e acontecimentos especiais na travessia do ser humano sobre a Terra.
Dessa forma, elas não servem apenas ao indivíduo – seu ouvinte imediato –, elas reverberam muito mais além.
Para o escritor Ilan Brenman, o contador de histórias faz algo que é muito antigo, e que por essa razão não se desgasta, nunca envelhece. A novidade que a história traz é antiga.
Na realidade, mais do que antiga, ela é atemporal. Sua força e seu poder são permanentes.
Como manifestação do que está registrado no inconsciente coletivo, as histórias servem como mapas para todos aqueles que virão depois. Você já pensou nisso?
Que uma história pode ser um “mapa do tesouro”? O tesouro de conhecer-se a si mesmo, principalmente, e também o mundo.
Distribuídos universalmente, conforme Clarissa Pinkola Estés, psicóloga junguiana, poeta e escritora norte-americana, os contos emergem em diferentes lugares do globo com sabores distintos, características diversas e com detalhes e contextos regionais, de tal maneira que sempre possibilitam ao público ouvinte/leitor alguma identificação especial.
Os significados dos contos são organismos vivos, estão eles mesmos sempre dançando e mudando de forma segundo a realidade dos tempos e a própria necessidade humana.
No entanto, mesmo que tenham suas estruturas transformadas e sejam adaptáveis às revoluções de ideias e inovações constantes, seu verdadeiro cerne nunca se perde. A essência da história sempre permanece intacta ao longo do tempo.
Toda viagem é um rito de passagem e, ao viajar pela história, a criança (e também o adulto) é capaz de acrescentar experiências alheias às suas próprias vivências, além de imaginar o que o destino reserva a seguir e diversas possíveis maneiras de lidar com as situações que surgem no caminho.
Tamanha é a relevância dessa arte, que ela pode atuar como um verdadeiro rito de passagem. No transcorrer da história, a criança é submetida a tantos estímulos sensoriais, de raciocínio, criatividade, imaginação e possibilidades, que a história passa a ressoar naquele novo ser, ampliando não apenas seu vocabulário, mas suas possibilidades de leitura do mundo à sua volta.
Esse é, pode-se dizer, o verdadeiro rito de passagem, a viagem na qual a criança embarca para se transformar, posto que na maioria das histórias o protagonista enfrenta diversas vicissitudes, nas quais é provado o tempo todo.
As armadilhas que surgem durante a viagem podem ser entendidas como uma metáfora da própria vida, análogas aos imprevistos que se podem encontrar no mundo real, os quais, quem quiser vencer, deve ser capaz de superar.
por Luciana Zoccoli